Pessoal, encontrei esta reportagem que a jornalista Francine Lima escreveu para a Revista Época em 11/11/2010.
Ultimamente tenho ficado de "cabelo em pé" com algumas reportagens que tem saído em jornais e televisão sobre atividade física e treinamento funcional.
Bem, esta reportagem não é uma delas (as bobagens estão postadas no Facebook, olhem lá).
Boa leitura!!!
Se você nunca ouviu falar, saiba que o nome treinamento "funcional" virou moda, virou tendência, e você vai ouvir falar cada vez mais em novidades envolvendo esse adjetivo. Ele já apareceu nas revistas como um novo jeito de malhar e ficar sarado e começa a ganhar espaço físico dentro das academias.
Se já ouviu falar e se até já experimentou algo que disseram para você que era funcional, convido você a erguer as orelhas. Há muita confusão sobre os conceitos dessa "novidade" (que nem novidade de verdade é) e muita marmelada sendo dita e vendida por aí por gente que ainda não entendeu direito do que se trata. Cada um que tenta definir o que é treinamento funcional inventa uma definição diferente, e a maneira de enxergar o treinamento vem mudando até para os seus gurus. Nem tudo que dizem ser treinamento funcional deveria levar esse nome.
O termo "funcional" vem de "função", e no caso do treinamento físico refere-se às funções que o corpo humano é capaz de exercer. Quais funções o corpo humano exerce? Ele caminha, corre, salta, empurra, puxa, agarra coisas, ergue coisas, lança coisas e por aí vai. Para realizar essas tarefas, o corpo realiza movimentos complexos, que usam várias articulações e musculaturas ao mesmo tempo. Todo mundo conhece esses movimentos. Nós os realizamos no cotidiano, com relativa facilidade enquanto somos jovens, e com graus crescentes de dificuldade à medida que envelhecemos. Pessoas muito bem treinadas nessas tarefas todas ficam tão boas que são chamadas de atletas.
Os atletas fazem os mesmos movimentos que a maioria das pessoas é capaz de fazer, mas conseguem alcançar melhor qualidade e maior intensidade nesses movimentos. Atletas treinados em corrida conseguem correr muito rápido, ou por muito tempo. Adultos saudáveis não treinados correm mais lentamente e se cansam logo. Idosos que viveram uma vida sedentária muitas vezes mal caminham.
Atletas treinados em levantamento de peso podem erguer cem quilos numa boa. Adultos saudáveis não treinados guardam uma caixa grande de fotografias no maleiro do guarda-roupa fazendo força e talvez transpirando um pouco. Idosos sedentários nem se atrevem a subir na escadinha, que dirá guardar a caixa de fotos.
O que os caras que promovem o treinamento funcional pretendem é treinar todo tipo de pessoa para realizar movimentos com uma facilidade mais parecida com a dos atletas, e menos parecida com a dos velhos. Eles querem que todo mundo desenvolva todas as suas capacidades físicas. Ou seja, que todo mundo esteja sempre preparado para correr rápido ou por mais tempo, para erguer pesos sem se machucar, para jogar bola sem sofrer lesões, para brincar com as crianças a tarde inteira e, se for preciso, para fugir do ladrão pulando o muro.
A diferença do treinamento do atleta para o treinamento físico de um adulto que quer apenas ser saudável e executar plenamente suas funções passa a ser, portanto, apenas a progressão. Segundo os conceitos do treinamento funcional, o jovem, o quarentão, o idoso e o atleta podem e devem fazer os mesmos tipos de exercício, mas em intensidades diferentes, adequadas aos seus objetivos.
O equilíbrio entre todas as capacidades físicas seria a forma física ideal. Para esse pessoal, não adianta ser superforte e não ser flexível, nem ter um fôlego extraordinário e não ter coordenação motora. Para executar tarefas corporais com eficiência, é preciso ser igualmente bom em tudo. Por isso, saem as séries de exercícios musculares isolados em máquinas e entram sequências mais variadas e dinâmicas de movimentos em espaços mais parecidos com uma quadra do que com uma sala de musculação.
Isso não tem nada a ver com subir na bola para fazer rosca direta, coisa que muitos aí andam chamando de exercício funcional.
O treinamento funcional ficou muito associado ao fortalecimento do core (o centro de sustentação do corpo, na parte baixa do tronco) e ao treino do equilíbrio usando superfícies instáveis, como a bola, o bosu e o disco inflável. Mas não vamos confundir o método com as ferramentas. O que torna o treinamento mais funcional não é a bola, nem o elástico, nem as tiras suspensas, nem qualquer acessório que possa ser usado durante um exercício. As ferramentas podem ser usadas de modos inovadores e de modos muito convencionais. Rosca direta em cima da bola em equilíbrio continua sendo trabalho muscular isolado.
Nos Estados Unidos, a cultura do treinamento funcional é bem mais antiga - e talvez nem tenha surgido com esse nome. No Brasil, ainda estamos em fase de aprendizado. Os trabalhos mais sérios ainda estão nas mãos dos personal trainers, que conseguem oferecer um serviço especializado, se diferenciando das grandes academias. Ou seja, o serviço de melhor qualidade está restrito a quem pode pagar de R$40 a mais de R$100 por aula, dependendo da região do país e do currículo do profissional (NOTA: existem studios sérios de TF no Brasil que oferecem aulas em grupo. Em academias convencionais, aí sim, somente com personal).
As academias, por sua vez, ainda estão experimentando inserir espaços e momentos de treinamento funcional em sua cultura tão construída em cima de máquinas e espelhos. Mas treinar gente comum como atleta dá mais trabalho e requer mais cuidado do que distribuir séries na musculação. Se a maioria dos frequentadores de academias (que ainda são uma pequena minoria de brasileiros) se convencer de que o treinamento esportivo é a melhor maneira de entrar em forma, é provável que as academias precisem fazer muito mais do que disponibilizar algumas bolas ao lado das máquinas e propor os mesmos exercícios parados de sempre.
Armando Jr Largura - "Pillar Training" (51)9166-3976/3059-3240 armandojr.73@hotmail.com